domingo, 15 de junho de 2008

A NOVA TEOLOGIA DA MISSA

A NOVA TEOLOGIA DA MISSA

Francisco Lafayette de Moraes



ÍNDICE

01 - PROPÓSITO

02 - A TEOLOGIA DA MISSA

03 - SACRIFÍCIO DA MISSA: SACRIFÍCIO DA CRUZ CONTINUADO NO ALTAR

04 - A EXPLICITAÇÃO DA FÉ CATÓLICA: TRENTO

05 - MISSA: A FÉ CATÓLICA E A FÉ PROTESTANTE

06 - A TEOLOGIA HERÉTICA DA MISSA DE PAULO VI

OBRAS CITADAS E/OU TRANSCRITAS



01 - PROPÓSITO

Este trabalho tem por PROPÓSITO mostrar que, embora o Concílio de Trento tenha definido "de maneira precisa a fé católica" relativamente à “TEOLOGIA da Missa e do Sacerdócio”: sacrifício verdadeiro, presença real de Jesus Cristo e sacerdócio hierárquico, esses dogmas não estão claramente afirmados na definição da Missa de Paulo VI, dada pelo "artigo 7 da «Institutio Generalis», cuja TEOLOGIA é claramente herética". De fato, o "NOVUS ORDO MISSAE" — isto é, o Novo Ordinário da Missa — "afasta-se, tanto em seu conjunto como nos detalhes, da TEOLOGIA católica da Santa Missa" e "aproxima-se de modo impressionante da herética TEOLOGIA protestante e constitui assim um perigo para a fé", como afirmaram os Cardeais Ottaviani e Bacci, em documento enviado ao Papa Paulo VI.


02 - A TEOLOGIA DA MISSA


A Associação "Una Voce Helvetica" publicou, em março de 1982, sob a rubrica do Pe. RENÉ MARIE, um estudo, "Teologia da Missa". São excelentes essas páginas e julgo útil extrair delas alguns trechos[1].

A Igreja Católica "possui as verdadeiras fontes da graça sobrenatural que são os sete sacramentos. E todas essas fontes de graça correm do Calvário, onde o Cristo Redentor ofereceu seu sacrifício. O sacrifício do Calvário é assim a fonte única donde se derrama sobre o mundo toda a vida sobrenatural... . O sacrifício é o ato supremo da virtude de religião e essa virtude é a justiça que devemos a Deus. Ela consiste em reconhecer a grandeza eminente de Deus e a submissão do homem... ".
"O sacrifício é a expressão privilegiada da virtude da religião. O sacrifício, segundo a etimologia da palavra (sacrum facere), consiste em fazer o sagrado, diz-nos São Tomás de Aquino, isto é, separar para Deus".

"Desde a origem da humanidade vemos o homem oferecer a Deus sacrifícios e exprimir desse modo sua religião. Abel oferece as primícias de seus rebanhos...".

[...]

Relembremos, portanto, o resumo do ensinamento sobre o Sacrifício do Calvário: "Realizou-se no Calvário, em toda a sua plenitude, o sacrifício para a glória de Deus; há a vítima, a única digna de Deus: seu próprio filho. Existe o ofertante que não são nem os soldados romanos, nem os sacerdotes judeus, mas o próprio Cristo, o qual, simultaneamente sacerdote e vítima, se oferece a seu Pai e morre por sua própria vontade, após ter derramado todo o seu sangue, na imolação livremente consentida".

"Esse sacrifício é único e basta para render a Deus toda honra e glória e para obter para os homens a graça... . Esse sacrifício, fonte única de todo o bem superior, Deus o quis tornar presente em todas as gerações de homens que se sucederão ao longo de todos os séculos até o fim do mundo, pela instituição da Eucaristia, segundo o testemunho do Evangelho. O profeta Malaquias, o último do Antigo Testamento, já havia profetizado: ‘Eis que em todo o lugar se oferece a Deus uma oblação pura’ (Mal.1,11)".

"Que o sacrifício eucarístico seja a renovação do sacrifício da Cruz[2] e o modo de torná-lo presente, é a doutrina de fé definida pelo Concílio de Trento: A vítima é a mesma, o sacerdote ofertante é também o mesmo, só difere a maneira de oferecer".

"A vítima, com efeito, é sempre o Cristo, sob as aparências do pão e do vinho. O sacerdote sacrificador também é Cristo, que perpetua a oferenda voluntária de seu sacrifício".

"Os sacerdotes do Novo Testamento não são sucessores nem substitutos de Cristo, são simplesmente seus ministros ou seus instrumentos".

"Convém esclarecer que a Missa e o Sacrifício da Missa não constituem uma só e mesma coisa, mas o Sacrifício se realiza na Missa. É a Igreja que institui os ritos da Missa para magnificar o sacrifício do Senhor e para explicitar seu mistério e dispor, desse modo, os espíritos aos sentimentos de adoração e de devoção".

Como se sabe, é na dupla Consagração que se realiza o Sacrifício: "O próprio Sacrifício da Missa encontra-se realizado essencialmente na dupla Consagração. É nesse rito, prescrito pelo Senhor, que se renova sacramentalmente o Sacrifício do Calvário. É somente nesse caso que o sacerdote age ‘na pessoa de Cristo’, em seu nome e em seu lugar".

[...]

“«O sacrifício do Calvário revivido sacramentalmente» é um parágrafo da brochura ‘Una Voce Helvetica’ que parece ser interessante aqui reproduzir”.

"O Concílio de Trento nos ensina que na Missa, como no Calvário, oferece-se a mesma vítima: o próprio Cristo; e é também o mesmo sacerdote que oferece; o próprio Cristo que se oferece pela redenção dos homens. Só a maneira de oferecer é diferente: no Calvário a imolação é sangrenta, na Missa a imolação reproduz-se sacramentalmente, isto é, por um sinal sacramental, a Deus reservado, que produz e realiza o que ele significa. A separação das oblatas é sinal sagrado que significa a morte de Cristo na Missa".

"No sacrifício de animais da Antiga Aliança, a separação do corpo e do sangue da vítima significa a morte da vítima. No sacrifício da Nova Aliança, a separação das oblatas significa sacramentalmente a morte da vítima: Cristo".

"É muito certo que Cristo morreu somente uma vez, mas, na Missa, sua imolação é significada e realizada sacramentalmente. Desse modo, a Missa é a renovação, a atualização no tempo, do Sacrifício da Cruz".

"Assim, cada vez que assistimos ao Sacrifício da Missa, subimos, em espírito, o Calvário, onde nos sentimos ao lado da Mãe das Dores e de São João. ‘Eu lá estava’ dizia Santo Agostinho. Este Sacrifício, continua a brochura, é satisfatório[3], oferecendo Cristo a Deus uma satisfação superabundante; ele é propiciatório[4], pois Cristo reconciliou o mundo com Deus; ele é impetratório[5], tendo Cristo suplicado ao Pai que concedesse aos homens as graças de santificação; ele é eucarístico, porque é homenagem perfeita de adoração, de louvor e de ações de graças a Deus".

"Mas, por que, então, a Missa?" indaga a brochura.

"É certíssimo - diz a publicação - que Cristo operou a Redenção do mundo em um ato único e que Ele morreu uma só vez... Por sua morte, logrou Cristo a salvação para todos os homens. É a doutrina da Igreja... . Cristo morreu, portanto, para todos. No entanto, isso não quer dizer que todos os homens sejam salvos. Ao contrário, Cristo nos disse que muitos irão ao fogo eterno".

"A Paixão de Cristo é causa universal de salvação e uma causa universal deve ser aplicada aos casos individuais. Ora, os méritos da Paixão de Cristo nos são aplicados precisamente pela renovação do Sacrifício da Missa".

"Eis um exemplo. Uma fonte é suficientemente abundante para satisfazer as necessidades de toda uma cidade; contudo, será preciso ainda captar essa fonte e transportar a água até a porta de cada habitante, senão, apesar da fonte, pode-se vir a morrer de sede... Assim, por sua Paixão, Cristo abriu a fonte de todo o bem espiritual. Todavia, isso não basta para que efetivamente participemos dessa fonte, é preciso que a aplicação de seus frutos se faça para cada um de nós. Essa é a obra do Sacrifício da Missa renovada sobre os nossos altares, (pois) a Missa é necessária para que os frutos da Paixão cheguem até nós."

“Evidentemente as diferentes orações da Missa não foram instituídas por Nosso Senhor. Os Apóstolos envolveram a Consagração e a Comunhão em preces e leituras e a Igreja, numa lenta elaboração, constituiu o Missal ou, mais exatamente, as diferentes Igrejas fizeram esse trabalho, donde a existência de missais diferentes uns dos outros, mas sempre com a mesma vontade de bem expor o mistério eucarístico e de preservá-lo das deformações heréticas”.

03 - SACRIFÍCIO DA MISSA: SACRIFÍCIO DA CRUZ CONTINUADO NO ALTAR

Jesus Cristo[6] é, Ele mesmo, o autor da Missa naquilo que ela tem de essencial, tendo a Igreja colocado os acessórios que são as cerimônias que acompanham o Sacrifício do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor. O sacerdote, ao oferecer o Santo Sacrifício da Missa, apenas dá continuidade ao Sacrifício da Cruz, porque ele recebeu ordem formal de Jesus Cristo na véspera de sua morte, quando nosso divino Salvador deu, durante a Ceia, seu Corpo e seu Sangue aos seus Apóstolos dizendo-lhes: "FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM[7]".

O rei David dá a Jesus Cristo, no salmo 109, o título de "Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque", porque nosso divino Salvador vai utilizar o pão e o vinho no sacrifício (da Missa), como outrora o havia feito Melquisedeque. O rei profeta O chama Padre eterno, porque pai Ele será sempre e porque o sacrifício que Ele instituiu continuará a existir até o fim dos tempos graças ao sacerdócio católico!

O profeta Malaquias, no capítulo primeiro (1, 11), diz que "depois do nascer e até o pôr do sol, será oferecido (em todo lugar) um sacrifício puro e sem mancha à majestade do Altíssimo".

E o profeta Jeremias, no capítulo 33, 18, diz que “nunca se verá faltar os sacerdotes, nem os sacrifícios”.

Onde encontraremos o cumprimento de tais profecias? na Igreja Católica, e não junto aos protestantes uma vez que eles não têm nem sacerdócio, nem sacrifício.

A Lei de Moisés prescrevia quatro sacrifícios: o holocausto, o sacrifício eucarístico, o sacrifício impetratório e o sacrifício propiciatório.

As vítimas eram oferecidas em holocausto em reconhecimento ao soberano domínio de Deus sobre todas as criaturas.

Os sacrifícios eucarísticos eram oferecidos para agradecer a Deus quaisquer favores consideráveis (ou graças) que tivessem sido recebidos.

Oferecia-se um sacrifício impetratório para pedir a Deus qualquer graça importante.

O sacrifício propiciatório era oferecido para a expiação de qualquer pecado e de forma a tornar Deus propício.

Santo Agostinho (354-430), falando do Sacrifício da Missa no seu décimo sétimo Livro da Cidade de Deus, diz: "Este sacrifício foi estabelecido para tomar o lugar de todos os sacrifícios do Antigo Testamento".

Santo Iríneu (140-202) diz ainda: "Os Apóstolos receberam este sacrifício de Jesus Cristo e a Igreja o oferece hoje em dia em todos os lugares, conforme a profecia de Malaquias".

Celebrava-se a Missa há 600 anos, há 1200 anos, há 1900 anos, como a celebramos hoje em dia na Igreja Católica[8], porque a Igreja recebeu a missão de oferecer este divino sacrifício da boca do próprio Jesus Cristo.

Quando um costume é universalmente estabelecido na Igreja e não havendo um Papa, um Bispo ou algum Concílio que seja o seu autor, isto é uma prova evidente que foram os Apóstolos que nos ensinaram a praticá-lo.

O Sacrifício da Missa é um desses costumes.


SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO

O sacrifício da Missa é propiciatório para os vivos e para os mortos.

Para os vivos porque ele é oferecido a Deus para obter, para eles, o perdão dos pecados e a remissão das penas devidas por causa dos pecados... Este dogma da nossa fé pode ser provado pelas palavras de nossos Livros Santos: "Isto é meu sangue, que é derramado por muitos, para a remissão dos pecados" (Mt.26,28).

[...]

O Sacrifício da Missa é também propiciatório para os mortos, sendo oferecido para contribuir para a remissão das penas temporais que ainda tenham que ser pagas à justiça divina. Os Livros Santos nos dizem: "é um pensamento santo e salutar o de rezar pelos mortos a fim de que eles fiquem isentos de seus pecados". E - fazendo uma analogia - não se lê no décimo segundo capítulo do segundo Livro dos Macabeus, que Judas Macabeu, general de exército, após uma brilhante vitória obtida sobre os inimigos de sua nação, enviou doze mil dracmas de prata ao templo de Jerusalém para que fossem oferecidos sacrifícios pelas almas de seus soldados que haviam sucumbido no combate?

[...]

O Santo Sacrifício da Missa tem sido oferecido pelos mortos desde os primeiros tempos do cristianismo, como é fácil de se constatar pelo testemunho dos Santos Padres.

Tertuliano nos diz: "que uma mulher que não faz oferecer o Santo Sacrifício da Missa todos os anos por seu marido, no dia de seu falecimento, deve ser considerada como tendo se divorciado dele".

[...]

Desde as origens do cristianismo o Santo Sacrifício da Missa foi oferecido como ele ainda o é, em nossos dias, na Igreja de Jesus Cristo[9].

E esse Sacrifício sempre foi oferecido tanto pelos vivos como pelos mortos: um SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO, o que os protestantes não aceitam[10].


04 - A EXPLICITAÇÃO DA FÉ CATÓLICA: TRENTO

"Já eram decorridos 1500 anos que a Missa era celebrada como é dita hoje na Igreja Católica[11], quando o protestantismo rejeitou este dogma de nossa fé: a Missa é a oferenda do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo feita a Deus pelo sacerdote".

Tendo "Lutero, e outros", negado "certo número de verdades, o Concílio de Trento definiu, de maneira precisa, a fé católica".

"O Concílio de Trento afirma a presença real e substancial de Cristo sob as aparências do pão e do vinho, e o fato de que a Missa é verdadeiramente um sacrifício verdadeiro, em substância, o Sacrifício da Cruz, isto é, um sacrifício propiciatório pela remissão dos pecados, ao mesmo tempo que (é) um sacrifício de louvor e de ação de graças. Ademais, tendo recebido o sacramento da ordem, somente o sacerdote tem o poder de consagrar".

Mas tal doutrina, afirmada, ou melhor, reafirmada no Concílio de Trento, não é uma coisa nova, nascida daquele Concílio, no século XVI, pois o que aquele Concílio fez foi tornar explícitas as verdades de fé, relativas à Missa e ao Sacerdócio, que foram professadas desde os primeiros tempos da Igreja.

De fato, as verdades negadas por Lutero faziam parte, na época daquele Concílio, do "Magistério da Igreja exercido de maneira tácita", ou seja, aquele que corresponde a "tudo o que foi crido desde o tempo dos Apóstolos, ... tudo o que está contido na Sagrada Escritura e tudo o que faz parte da Tradição".

Porém, em decorrência das heresias protestantes, foi necessário passar ao ensinamento explícito daquilo que antes a Igreja tinha se limitado a propor tacitamente, ou seja, foi necessário passar do Magistério Tácito ao Magistério Explícito.

Foi o que fez o Concílio de Trento.

Além disso, "como os erros de Lutero se insinuassem, quer no espírito de clérigos, quer no de fiéis, quer em certos missais, desejou aquele Concílio um estudo dos diferentes missais e a elaboração de um Missal que fechasse a porta às heresias. Este trabalho foi realizado pelo Papa São Pio V".

E a Missa restaurada por São Pio V e por ele canonizada expressa "claramente estas realidades: SACRIFÍCIO, PRESENÇA REAL da Vítima e SACERDÓCIO DOS PADRES", exprimindo "de maneira precisa a fé católica".




05 - MISSA: A FÉ CATÓLICA E A FÉ PROTESTANTE

Para os católicos o Santo Sacrifício da Missa é o "Sacrifício da Nova Lei, no qual Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo ministério do sacerdote, se oferece a Si mesmo a Deus, de maneira incruenta, sob as aparências do pão e do vinho".

Pelo Sacrifício da Cruz, Jesus Cristo renovou a dignidade da natureza humana, decaída em função do pecado original, e remiu os pecados de todos os homens. E Ele deixou este Sacrifício perpetuado no Sacrifício que se realiza em nossos altares, isto é, o Santo Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz, e, além de ser um sacrifício satisfatório, impetratório e eucarístico, é também, como reafirmou e enfatizou o Concílio de Trento, um sacrifício propiciatório que alcança "a remissão dos pecados".

Isto os protestantes não aceitam; para eles o Sacrifício da Missa não é o Sacrifício da Cruz continuado, não é um sacrifício propiciatório, uma vez que, segundo Lutero, "o Sacrifício da Cruz se realizou num momento determinado da história; é prisioneiro desta história", e, assim sendo, não pode ter continuação. Entendem os protestantes "que o Sacrifício da Missa é inútil porque Nosso Senhor, por sua morte na Cruz, já obteve o perdão de todos os nossos pecados" e que a salvação virá pela fé em Jesus, pela "fé em sua morte e ressurreição". "Para Lutero a Missa pode ser um sacrifício de louvor, ou seja, um ato de louvor e de ação de graças (esta limitação foi condenada pelo Concílio de Trento) mas não certamente um sacrifício propiciatório que renova e aplica o Sacrifício da Cruz" e, por isso mesmo, os protestantes transformaram a Missa em um "simples memorial", em uma comemoração da Ceia do Senhor.

Não tendo os protestantes um sacrifício verdadeiro eles não têm, também, e não querem ter, uma Vítima. Para os católicos Jesus Cristo está real, isto é, está "fisicamente presente" após a Consagração para Se oferecer como Vítima no Santo Sacrifício da Missa, ao passo que para os protestantes há apenas uma presença espiritual do Senhor, pois, para eles "trata-se somente de celebrar um memorial e é pela oração da comunidade que se realiza a presença de Cristo", uma vez que, "segundo Lutero, não são as palavras da Consagração mas sim a fé dos fiéis presentes que irá produzir uma presença espiritual de Cristo".

Não havendo sacrifício não há necessidade de sacerdote, e por isso mesmo Lutero afirmava, em seu tempo, que "todos os cristãos são sacerdotes", e, assim sendo, "o pastor apenas exerce uma função presidindo a ‘missa evangélica’".

A esta altura, podemos afirmar junto com Dom Antônio de Castro Mayer que "três coisas essenciais da Missa católica estão em oposição frontal ao luteranismo:

(1) SACERDÓCIO HIERÁRQUICO

Segundo os protestantes, não há sacerdócio hierárquico, distinto e superior ao sacerdócio comum de todos os fiéis, porém, segundo a doutrina católica o sacerdócio hierárquico é indispensável para que haja Missa.

(2) PRESENÇA REAL

Não admitem os protestantes uma presença real, física de Jesus Cristo, após a Consagração, todavia, admitem uma presença real mas apenas espiritual, como a presença de Jesus Cristo onde dois ou três se reúnem em Seu nome; já segundo a doutrina católica, pela transubstanciação realizada na Missa, Jesus está fisicamente presente sob as espécies de pão e vinho.

(3) SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO

Finalmente, rejeitam os protestantes que a Missa seja sacrifício propiciatório; a Missa, define o Concílio de Trento, é um sacrifício não só de louvor e ação de graças, mas sobretudo propiciatório.

A Nova Missa, segundo a descrição que dela faz a "INSTITUTIO" do Missal de Paulo VI, contém os três postulados protestantes. Basta ler o número 7[12] da "INSTITUTIO" na edição de 1969, que a edição de 1970 fingiu corrigir"[13].

Com relação ao termo "INSTITUTIO", mencionado no parágrafo anterior, trata-se da "INSTITUTIO GENERALIS", ou INSTRUÇÃO GERAL, do Missal de Paulo VI, documento que apresenta e define a Missa aprovada por aquele Papa, assunto do próximo tópico.


06 - A TEOLOGIA HERÉTICA DA MISSA DE PAULO VI

Afirma-se[14] levianamente que os tradicionalistas fizeram da Missa Tridentina uma espécie de senha contra o Concílio Vaticano II. Profundo erro, pois os tradicionalistas não se opuseram a esse Concílio, mas simplesmente a algumas de suas fórmulas, como aquela sobre a liberdade religiosa, que se opõe a fé definida por Pio IX; levantaram-se também contra os exageros litúrgicos, que são antes obra do "espírito do Concílio" que dos próprios textos.

Eles recusam a Nova Missa porque ela é ambígua e porque duvidam que essa nova Missa seja a verdadeira Missa.

Por quê?

Primeiramente devido ao artigo 7 da "INSTITUTIO GENERALIS", cuja teologia é claramente herética[15].
Eis o texto desse “famoso” artigo 7: "A Ceia do Senhor, também chamada Missa, é a assembléia ou reunião do povo de Deus sob a presidência do sacerdote a fim de celebrar o memorial do Senhor. É por isso que, a esse agrupamento local da Igreja, se aplica eminentemente a promessa de Cristo: ‘Onde dois ou três se reunirem em meu nome, aí eu estou no meio deles’"[16].

Assim:

1. A Missa é denominada inicialmente "Ceia" segundo a terminologia protestante, e ela é apresentada unicamente como o agrupamento do povo de Deus.
2. O sacerdote é exclusivamente um "presidente".
3. A Missa é obra de toda a comunidade, consistindo a função de presidência do sacerdote unicamente em "celebrar o memorial do Senhor", definição que, em função das duas precedentes, tem nítido sabor protestante.
4. Em conseqüência desse agrupamento, Cristo está presente.
Essa definição é antes de tudo incompleta, pois ela omite o fato de ser a Missa um SACRIFÍCIO, e cala aquilo que afirmou o Concílio de Trento; ademais ela é uma inversão da ordem teológica que afirma:

“Em primeiro lugar, a PRESENÇA REAL E SUBSTANCIAL do Corpo e do Sangue de Cristo sob as espécies eucarísticas, pelo MINISTÉRIO DO SACERDOTE que oferece um SACRIFÍCIO, o Sacrifício de Cristo, porque ele (o sacerdote) ocupa o seu lugar e age em seu nome e condensa em si mesmo a comunidade dos fiéis[17].”

Ora, nesse artigo 7, ao contrário, o que é primeiro e parece constituir em si o sacramento, é a comunidade reunida. Trata-se somente de celebrar um memorial, e é pela oração da comunidade que se realiza a presença de Cristo (presença puramente espiritual, aliás)[18].

Coisa estranha, enquanto esse texto foi modificado por ordem de Paulo VI, nossos bispos franceses mantiveram o texto herético, que acabamos de citar, na preparação do Congresso Eucarístico de Lourdes!

Do mesmo modo, a modificação introduzida pela Congregação do Culto Divino está longe de ser perfeita. Esta Congregação, aliás, confessa-o ingenuamente ao comentar os diferentes retoques feitos na apresentação do Missal Romano: "As emendas, na realidade, são pouco numerosas, por vezes são pouco importantes ou referem-se apenas ao estilo".

Eis o novo texto: "In missa, seu Cena dominica, populus Dei in unum convocatur, sacerdote praeside personna Christi gerente, ad memoriale domini seu sacrificium eucharisticum celebrandum. Quare de hujus modi sanctae Eclesiae coadunatione locali eminenter valet promissio Christi: ‘Ubi sunt duo vel tre congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum’ (Mt.18,20). In missae enim celebratione in qua sacrificium Crucis perpetuatur, Christus realiter praesens adest in ipso coetu in suo nomine congregato, in persona ministri, in verbo suo et quidem substantialiter et continenter sub speciebus eucharisticis".

O que significa:

1. À missa, também chamada Ceia do Senhor, o povo de Deus se reúne sob a presidência do sacerdote que ocupa o lugar de Cristo para celebrar o memorial do Senhor ou Sacrifício eucarístico.
2. Por isso vale eminentemente para um agrupamento local desse gênero da Igreja santa a promessa de Cristo: "Lá onde dois ou três se reunirem em meu nome, aí eu estou no meio deles" (Mt.18,20).
3. Na celebração da missa, com efeito, na qual o Sacrifício da Cruz é perpetuado, Cristo está verdadeiramente presente na assembléia reunida em seu nome, na pessoa do ministro, em sua palavra e, de modo substancial e contínuo, sob as espécies eucarísticas"[19].
Essa definição permanece imperfeita e ambígua.

1. Continua-se em assimilar a missa à Ceia e já não se põe em relevo que ela é a continuação e a renovação do Sacrifício da Cruz.
2. A missa ainda é "a reunião do povo de Deus" e ela é como a ação do povo de Deus para celebrar o memorial.
3. Diz-se bem que é a celebração do Sacrifício Eucarístico, mas não se explicita se se trata do sacrifício propiciatório ou simplesmente do sacrifício de louvor ou de ação de graças. Ora, Max Thurian[20] admite a Eucaristia "memorial do Senhor, sacrifício de ação de graças e de intercessão", e o Concílio de Trento disse: "Se alguém disser que o Sacrifício da Missa é somente um sacrifício de louvor e de ação de graças, ou simplesmente uma comemoração do Sacrifício (da Cruz[21]) e não um sacrifício propiciatório, que seja anátema". Insistem, pois, em adotar fórmulas ambíguas.
4. Ainda que se escreva que o grupamento está sob a presidência do sacerdote, não se oculta que "é a comunidade que é chamada a celebrar o memorial".
5. E é devido a esse grupamento da comunidade que Cristo está presente. Com efeito, diz-se "Quare", eis porque se deveria concluir logicamente que uma missa que não reúne uma comunidade não obtém a presença de Cristo.
6. Após essa primeira presença de Cristo na comunidade, acrescenta-se que Cristo está presente, também, na presença do ministro, em sua palavra proclamada na missa, sem distinguir o valor real dessas diferentes presenças. Finalmente se adiciona sua presença substancial sob as espécies eucarísticas. Esta última presença é insuficientemente particularizada pois, para os protestantes, há uma presença de Cristo sob o sinal do pão e do vinho, mas pela fé expressa pelos fiéis.
Esse artigo 7, posto que modificado, permanece radicalmente ambíguo! E não se diga que o Proêmio[22], acrescentado a seguir, corrija essa ambigüidade. Em particular, o artigo 5 põe em evidência o "sacerdócio real dos fiéis"[23] e diz: "a celebração da Eucaristia (não se diz da Missa) é obra de toda a Igreja na qual cada um faz somente, mas totalmente, aquilo que lhe compete, respeitada a posição que ele ocupa no povo de Deus!"

Os bispos franceses compreendem muito bem isto quando fornecem explicações sobre a celebração eucarística e dizem: "A Assembléia que realiza a Eucaristia é a Igreja num determinado lugar".

Desse modo, chega-se praticamente a absorver o sacerdócio ministerial dos sacerdotes no sacerdócio comum dos fiéis, enquanto que este só tem existência e exercício em virtude do primeiro e a ele subordinado.

O Proêmio ousa escrever: “[...] assim, no novo missal a regra de oração (lex orandi) da Igreja corresponde à sua constante regra de fé (lex credendi)". Pode-se dizer que isto não é verdade: a regra de oração do novo missal, definida pela "INSTITUTIO GENERALIS" não está conforme a regra da fé constante da Igreja[24].

Além disso, pode-se concluir também que o artigo 7 da "INSTITUTIO GENERALIS", tal como redigido inicialmente ou mesmo depois, é o fato que melhor demonstra a intenção dos autores da Nova Missa de, pela "RENOVAÇÃO" da TEOLOGIA DA EUCARISTIA, criar condições favoráveis à concretização de um falso "ecumenismo", e mesmo que esse artigo 7 tenha sido, posteriormente, alterado [e não satisfatoriamente como o demonstrou o Padre Des Graviers: "Essa definição (a nova) permanece imperfeita e ambígua"], o fundamental, isto é, O NOVO ORDINÁRIO DA MISSA NÃO O FOI, e, assim sendo, o rito da Nova Missa continuou sendo um rito que podia e ainda pode ser aceito pelos protestantes. Louis Salleron, em seu livro "A Nova Missa", aborda também este tema: "A Institutio Generalis, em sua redação primitiva, servia de introdução ao novo ORDO MISSAE O QUAL NÃO FOI MODIFICADO... Os autores da Institutio Generalis são os (mesmos) autores do ORDO MISSAE. Na Institutio Generalis eles nos dizem o que é o NOVO ORDO. Modificam o rito tradicional para fazê-lo aceitável aos protestantes. É um rito ecumênico. Isto explica a sua definição constante do artigo 7, que vale para a ceia protestante ainda mais que para a Missa católica"[25].

De fato, o NOVO ORDINÁRIO DA MISSA de Paulo VI, como afirmaram os Cardeais OTTAVIANI e BACCI, "se afasta, tanto em seu conjunto como nos detalhes, da TEOLOGIA CATÓLICA da Santa Missa" e, sem dúvida, "aproxima-se de modo impressionante da TEOLOGIA PROTESTANTE HERÉTICA e constitui assim um perigo para a fé"[26].

Ademais, ainda em função de um falso ecumenismo, a Missa canonizada por São Pio V tinha que ser "substituída" uma vez que, expressando "a antiga fé e a doutrina do grande mistério eucarístico", contrariava e ainda contraria diretamente as teorias heréticas dos protestantes e por eles não poderia (e não pode) ser aceita.

Modificada a concepção de Missa, isto é, modificada a sua definição (artigo 7 da Institutio Generalis), modificada a sua TEOLOGIA ("renovada"? NÃO!) e a teologia do Sacerdócio, era mister, para os progressistas, mudar também a CELEBRAÇÃO da Santa Missa. O falso ecumenismo aprovado pelo Vaticano II exigia esta mudança, e ela foi feita; e a eliminação ou atenuação de tudo aquilo que exprime claramente a fé católica sobre os dogmas eucarísticos foi dita ser a "RENOVAÇÃO" da TEOLOGIA e da CELEBRAÇÃO da EUCARISTIA; e assim foram atendidos os desejos dos protestantes, como o confirmou a "Comissão Mista CATÓLICO-LUTERANA, oficialmente reconhecida pelo Vaticano"[27], ao afirmar:

(1) - "Entre as idéias do Concílio Vaticano II, onde se pode ver um acolhimento dos postulados de Lutero", acha-se "por exemplo: [...] o acento colocado sobre o sacerdócio de todos os batizados"[28] (ou seja, um postulado totalmente diferente daquele que a Igreja sempre defendeu: o sacerdócio hierárquico é distinto do sacerdócio comum dos fiéis).

(2) - "Outras exigências que LUTERO tinha formulado em seu tempo podem ser consideradas como sendo satisfeitas na TEOLOGIA e na prática da Igreja de hoje: o emprego da língua vulgar na liturgia, a possibilidade da comunhão sob as duas espécies e a RENOVAÇÃO DA TEOLOGIA e da CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA"[29].


OBRAS CITADAS E/OU TRANSCRITAS

01 - Monsenhor MARCEL LEFEBVRE - "CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS" - 1984 - EDITORA PERMANÊNCIA - SEM DATA - RIO de JANEIRO.
02 - Padre DES GRAVIERS - "PARECER SOBRE A “RESTAURAÇÃO” DA MISSA APÓS O VATICANO II" - Revista PERMANÊNCIA - MAR/ABR - 1983.
03 - Padre RAYMOND DULAC - "QUO PRIMUM TEMPORE" - Estudo sobre a Bula que promulgou o Missal Romano de São Pio V - Revista PERMANÊNCIA - NOV/DEZ - 1975.
04 - Padre FERNANDO A. RIFAN - "MISSA NOVA OU MISSA TRADICIONAL" - Folheto - SEM DATA - CAMPOS.
05 - SI, SI, NO, NO - "UM INDULTO?" - 1984 - Revista PERMANÊNCIA - MAR/ABR - 1985.
06 - Monsenhor Ch. GUAY - "L'EGLISE ET LES SACREMENTS" - Revista COMMUNICANTES - n.35 - OCTOBRE - 1990.
07 - CONCÍLIO DE TRENTO - EXTRATO DE CANONES E DECRETOS - SEM DATA - "Imprimatur de 15-07-1953" - EDITORA VOZES - PETRÓPOLIS.
08 - (Autor não mencionado) - "PEQUENO CATECISMO SOBRE A TRADIÇÃO" - Jornal ONTEM-HOJE-SEMPRE - n.7 - AGO/SET - 1990 - CAMPOS.
09 - SACERDOTE CATÓLICO - "LA SANTA MISA Y LA NUEVA MISA" - Revista ROMA AETERNA - n.116 - SET - 1990.
10 - Dom ANTONIO DE CASTRO MAYER - "A IGREJA DO CONCÍLIO VATICANO II NÃO PODE SER A IGREJA CATÓLICA" - Revista PERMANÊNCIA - NOV/DEZ ­1984.
11 - LOUIS SALLERON - "LA NUEVA MISA" - 1978 - EDITORIAL ICTION.

Notas:
[1] - Palavras do Padre Des Graviers. Toda esta parte reproduz trecho de artigo deste Padre intitulado: “PARECER SOBRE A ‘RESTAURAÇÃO’ DA MISSA APÓS O VATICANO II.
[2] - A doutrina sobre o “santíssimo Sacrifício da Missa” tal como “ensina, declara e determina” o Concílio de Trento, “para que se mantenha integra na Igreja Católica a antiga fé e doutrina do grande mistério eucarístico”, foi tornada explícita na Sessão XXII, de 17-09-1562.
[3] - Em outras obras consta “culto de latria”, ou seja, de adoração à Deus.
[4] - PROPICIAÇÃO: ação de tornar Deus propício.
[5] - IMPETRAÇÃO: ação de obter de Deus as graças e as bençãos divinas.
[6] - Transcrição de trecho de conferência do Monsenhor Guay.
[7] - O destaque é meu.
[8] - Em 1907, Monsenhor Guay fala da Missa que, vinda dos primeiros tempos do Cristianismo foi aprimorada por santos Papas — São Dâmazo, São Leão, São Gelásio, São Gregório — e restaurada por São Pio V.
[9] - Até aqui transcrição de trechos da conferência sobre “A Igreja e os Sacramentos”, feita por Monsenhor Ch. Guay, em 1907.
[10] - Ver, mais adiante, o artigo 05.
[11] - Estamos falando da “Missa de Sempre”, e, evidentemente, antes do Vaticano II.
[12] - Outros autores chamam de “artigo 7” e outros de “item 7”, sempre da “Institutio Generalis”.
[13] - Fim da transcrição de trecho do texto de Dom Antônio.
[14] - Reprodução, neste artigo 06, de mais um trecho do artigo do Padre Des Graviers.
[15] - O destaque é meu.
[16] - Os destaques são meus.
[17] - Os destaques são todos meus.
[18] - O artigo 7, em questão, totalmente herético, foi objeto de considerações dos Cardeais OTTAVIANI e BACCI, que o repudiaram em carta aberta dirigida ao Papa Paulo VI, e, por ordem desse Papa, foi então esse artigo modificado pela Congregação do Culto Divino.
[19] - Não é dito que se trata de uma presença REAL, FÍSICA, pois Nosso Senhor pode ser perpetuado também pela lembrança, pela comemoração de seus atos e pode estar presente espiritualmente.
[20] - Max Thurian é protestante, irmão e teólogo da comunidade ecumênica de Taizé, na França. Foi um dos “observadores não-católicos” presentes ao Concílio Vaticano II e também participou da Comissão encarregada da elaboração da Nova Missa. Em 1988, ou seja, no mesmo ano em que a Santa Sé excomungava os dois bispos tradicionalistas, foi sagrado sacerdote da Igreja Católica, pelo antigo arcebispo de Nápoles - Cardeal Ursi - sem que tivesse abjurado, antes ou depois, sua fé protestante.
[21] - Este acréscimo é meu.
[22] - No original consta “Praemium”; em latim seria “Prooemium”.
[23] - O artigo 5 citado é outro artigo da “Institutio Generalis; ver também o final do artigo 05 desta, que trata de “sacerdócio hierárquico”.
[24] Fim da transcrição de parte do artigo do Padre DES GRAVIERS.
[25] Os destaques são meus.
[26] Os destaques são meus.
[27] O destaque é meu.
[28] O destaque é meu.
[29] - Transcrevendo “La Documentation Catholique”, n.1085, de 3 de julho de 1983. Os destaques são meus.

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